segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Última Carta

Eu comecei esse texto escrevendo mais uma carta da série.

Apaguei, porque percebi que não tenho absolutamente nada a dizer a ninguém.


As melhores respostas são dadas no silêncio ou no abraço.

E tem de mim cada uma dessas respostas, aqueles que as merecem.




quarta-feira, 27 de julho de 2016

#3 Carta aos Meus Pais

Esse desafio das cartas traz umas propostas bastante inusitadas; as que tiram do conforto merecem uma atenção especial, exatamente porque talvez expressem coisas que geralmente não têm espaço para serem muito comentadas no mundo "verbal".

Vamos lá.

Aos Meus Pais,

Seria interessante se vocês pudessem ler realmente isso um dia.

Brevemente, o que eu tenho a dizer a vocês é que eu sinto muito. Sinto muito por vocês, porque acredito veementemente que todo ser humano só faz o que considera o melhor a ser feito, em qualquer situação. A escolha pela preguiça, pelo crime, pelo comportamento perverso ou desleixado, quando avaliado e escolhido naquele momento por um ser humano, é definido automaticamente, dentre uma lista de outras centenas de possibilidades, como o melhor comportamento a desenvolver, seja por diminuir a dor, dar prazer, ou qualquer outro benefício.

Tudo o que vocês fizeram, as escolhas de vocês, me impactaram sim; acontece que, de verdade,eu não sei exatamente em que momento específico ou por que, eu decidi fazer diferente da história de vocês.

Diferente de você, Mãe; uma menina fraca, sem muito juízo, que (eu realmente não faço ideia do motivo) se envolveu com uma pessoa extremamente nociva e não teve pulso firme pra sair. Vou dar o benefício da dúvida e chamar o que talvez tenha sido conivência de 'falta de pulso'. Fica mais fácil de sentir muito, ao invés de sentir pena.

Diferente de você, Luiz.
Você é um caso à parte: minha mãe pode ter sido estúpida ou até mesmo egoísta, mas você é um psicopata que deveria simplesmente estar afastado do convívio da sociedade. Não há muito o que dizer além disso sobre você.

Se um dia eu for surpreendida e tivermos um reencontro em alguma dimensão, eu posso dizer com a cabeça erguida que, se devia algo a vocês, acredito ter pago.

(Mas me pego pensando: se eu que devia à vocês e vocês vieram resgatar suas dívidas: não há re-acúmulo de 'bad karma' ao agir como vocês agiram?)

Como essa possibilidade é apenas uma especulação - e eu realmente ainda não sou evoluída a ponto de estar me importando muito com o grau de evolução em que vocês estão, mas sim de me policiar em fazer um bom trabalho Meu em vida - vamos voltar e finalizar.

Sinto muito por "isso tudo" ter sido o melhor que vocês puderam ser. Por muita sorte, eu me tornei um ser humano do qual eu tenho orgulho. Errei e sofri muito, muito em parte por causa do sentimento de solidão no qual sempre me senti mergulhada, devido ao fato de, por ingerência de vida (mãe) e psicopatia (Luiz), ter passado por uma vida extremamente desacompanhada, mas tive o apoio e  exemplo de pessoas diversas que me mantiveram com a chama acesa internamente. Me mantiveram com a doçura e com a esperança acesa. Graças a eles, eu estou aqui.

Obrigada por terem sido quem vocês foram; em condições normais, eu jamais teria sofrido tanto, e em contra-partida, não seria tão grata por tudo como sou hoje.

Saudações,

Clarissa Peçanha.





sexta-feira, 22 de julho de 2016

#2Carta Para a Minha Paixão

A ideia original de escrever essas cartas é passar os próximos meses, até a conclusão deste ano, com alguma atividade lúdica e pacífica, conciliadora de ideias e que exercite a mente; algo que eu goste de fazer.

Proposta #2: escrever uma carta para minha Paixão.
(Acredito que a inspiração desta aparecerá em outras propostas, com outras abordagens, mas vou focar inteiramente nesta, aqui e agora).

(*** Eu comecei a escrever essa carta de um jeito diferente, mas acho que de outra maneira faz mais sentido)

Mô,

Sim, é assim que eu gosto de chamar o cara que eu amo. Mô.

Eu gosto de deitar na perna dele, enquanto ele faz qualquer coisa: vê tv, olha o telefone, dorme. Eu gosto de deitar no colo dele. E amo quando ele deita no meu.

O cara que eu amo não é "do mesmo planeta" que eu: ele veio de outro Estado. De outro tipo de lugar, de gente, de temperatura: ele não sente frio quando eu tô me tremendo toda; ele bebe uns chás de mato que eu até gosto, e ele fala bonito e diferente das pessoas "do meu planeta". Fora essas questões físicas e culturais, emocionalmente ele às vezes também parece ter vindo de outro planeta. Calado, mas expressivo. Não grita nunca, não sai do sério. É ansioso e eu não sei o que ele faz pra se manter tão de boa com as coisas.

Quando eu o conheci, eu fazia a maior questão de estar perto dele. Apenas para estar. Por quê?
Porque eu gosto de ver como ele se mexe, como ele fala. O cheiro dele é uma delícia. O olhar dele é bonito, e não é só quando ele olha pra mim: quando ele olha pra qualquer coisa. É bonito de ver como ele dá o primeiro trago no cigarro, ou como ele veste o casaco. E eu fui querendo cada vez mais estar em sua companhia. Não tenho medo de dizer que sei que ele também quis estar perto de mim, e isso me deixa extremamente feliz.

O que mudou de quando o conheci pra cá? A vontade de estar perto. Mudou; mudou completamente.

A vontade de estar perto passou do nível "me faz bem ver essa coisa bonita" para "me faz falta essa beleza todo dia". E daí, nós conseguimos, juntos, ter o tempo como amigo, pra podermos dividir outros momentos; acordar cedo é bom, porque dá tempo de olhar de pertinho e encher de beijos; desamarrar o cadarço é bom, porque eu posso apoia-lo com as mãos; passar um dia longo no trabalho é bom, porque eu volto pra um lugar que não é mais meu. É nosso.

Se não bastasse tudo isso, devido a todo o prazer que eu sinto ao recebê-lo, de qualquer maneira que ele decida me preencher (sexy sem ser vulgar), em breve receberemos um presentinho chamado Vicente, nosso filho, nosso bebezinho, um pedacinho de cada um de nós que terá um pouquinho dos dois, e mais um tantão que ele mesmo vai construir durante os anos. Agora, além de eu me sentir absoluta e fantástica na presença dele, eu carrego alguém dentro de mim que já demonstra sentir o mesmo, que já se aconchega na mãozinha quentinha do pai quando toca a barriga.

O cara por quem eu sou apaixonada é um filho Bom, é um irmão bacana, é um profissional absurdamente capaz, é um Homem Lindo; ele tem defeitos e esquisitices e ronca. Bem alto, às vezes.
Tudo permanece interligado e tudo compõe quem ele é; menos um pedaço, e talvez não fosse exatamente a pessoa que eu amo.

(Eu desejo que ele seja tão feliz perto de mim como eu sou perto dele).

***(Hey, você que eu amo: obrigada por ser exatamente do jeito que você é).

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Uma tarde que virou noite, e eu pude enumerar o que são e o que não são carinhos.

Carinho cuida, carinho aceita, carinho indica a direção pela mão.

Carinho não grita, não machuca, não aponta dedo...

Carinho perdoa, carinho pede perdão, carinho volta atrás.

Carinho não tem orgulho, carinho não tem raiva, carinho não anda com pedra na mão.

(E do nada me lembro dos jatobás do Pequeno Príncipe...)

(Originalmente escrito em 31/08/13; permaneceu no limbo dos rascunhos esse tempo todo, pedindo pra emergir agora.)

terça-feira, 19 de julho de 2016

#1 - Carta ao meu Melhor Amigo

As atualizações da vida são realmente muito velozes e fazem a gente pensar por ângulos até então não abordados...

Há poucos dias tive a oportunidade de ver que meu bebezinho já é um menininho (bastante sentimental, aliás). Somando a isso um sonho bastante perturbador que tive recentemente (no qual eu me via acordando de madrugada procurando pelo meu bebê e ele não estava na cama; quando fui procurá-lo, ele estava dormindo em um tapete na cozinha, e nós discutimos - sim, eu discuti com um recém-nascido falante - sobre ele não poder ficar deitado no frio, pois tinha que mamar e dormir em um local quentinho. A resposta dele ao meu pedido para que ele voltasse à cama foi: "eu não quero deitar com você porque eu não gosto de você!), tomei coragem de escrever uma carta para o meu melhor amigo: Vicente, meu Filho.

Oi,

Exatamente com essa mesma falta de palavras que eu me pego constantemente parada, sem saber como começar uma conversa com você, quando estamos sozinhos...

Eu gostaria de saber como é que você sente as coisas, já desse período. Eu sei que não é com a destreza que a gente pensa já grande, mas gostaria mesmo de saber o quê, de todos esses quase 300 dias aqui dentro de mim, pode ser que você se lembre um dia, quando sentir, ouvir ou tocar...

Sabe, durante muito tempo eu achei que não teria você por aqui. Foram tempos muito conturbados antes de você chegar... E eu gostaria, vou gostar, na verdade, de conversar um dia com você sobre tudo o que aconteceu... Mas, principalmente, sobre como foi maravilhoso poder optar pela sua presença, pela sua vinda, pela sua vida.

Eu não gostaria de te escrever o quanto você mudou na minha vida pra melhor, nem o quanto eu te esperei, nem como me sinto insegura de saber se eu vou ser suficiente pra você, pelo tempo que você estiver comigo... Eu gostaria mesmo que você sentisse isso. Que você soubesse disso, que visse, que fosse tangível pra você. Que você se sentisse seguro, e feliz.

Eu espero, do fundo do meu coração, falando um pouco à parte do sentimento de posse e infantilidade do qual as mamães geralmente são tomadas, que você saiba que eu estou aqui pra você, e por você. Que você aceite a minha amizade, cheia de defeitos, falhas e chateações, porque Amor como esse (agora eu entendo) não existe igual. E eu não me refiro ao meu por você apenas, como Protetora, mas também do meu por você, como a Frágil, que precisava da sua vinda, da sua companhia, de ver você crescer pra restituir a fé internamente, pra ter fôlego e ânimo de viver A Vida Linda que eu sempre achei que pudesse existir. Muito provavelmente eu preciso muito mais de você do que você de mim.

Ansiosa pra te conhecer, pra te ver e me reconhecer em você.
Me desculpe se eu não sei bem o que te dizer quando estamos a sós; é uma situação inédita pra mim não saber o que falar...
Resumindo, eu espero saber te fazer bem, espero saber te proteger, te ensinar, te ajudar, te entender... Algumas vezes eu vou falhar, com certeza; mas por favor, jamais se esqueça: será tentando ser a Melhor Amiga da sua vida.

Com todo o amor que eu espero que você sinta,

Clarissa (mamãe - com M minúsculo devido à minha insegurança que você já conhece).

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Topando, juntamente com um amigo, um desafio no qual devemos escrever uma carta para diferentes pessoas, totalizando trinta cartas.

Não que necessariamente precisem ser enviadas, ou lidas por mais alguém, mas parece uma forma lúdica e pacífica de expor e analisar diversos sentimentos.

A proposta #1 traz o desafio de escrever uma carta ao Melhor Amigo.

Me peguei pensando bastante no assunto, principalmente nesta fase da minha vida, na qual estou aguardando com ansiedade e alegria pela chegada do meu filho (ou filha, ainda não sei o sexo); quem seria meu Melhor Amigo?

Eu tive o carinho da vida nesse sentido: já precisei demais e muitas vezes de colo, apoio e ajuda de amigos, e tive, de diferentes pessoas. Eles não são perfeitos, mas têm uma coisa que os faz seres extremamente Bons: eles conseguem amar alguém, sabendo de suas fraquezas, dificuldades e defeitos, e além, conseguem abrir mão de tempo pessoal para usar em prol de outro ser humano (no caso, comigo - e sou grata demais por isso).

Algumas das pessoas que eu chamei de amigo com fervor foram as que mais me magoaram; outras, pelas quais não dava muita fé, foram as que mais tiveram fé em mim, e me constrange essa bondade e carinho.

Difícil escolher Um Amigo; eu vou fazer uma Carta para meus Melhores Amigos - aqueles que me apoiaram nas quedas, que me empurraram quando eu quis parar tudo, que me abraçaram quando eu tive medo, que me deram alimento físico e moral quando eu tive fome.

:)

Espero que a ideia incentive mais pessoas a expressarem esses sentimentos que, muitas vezes, acabam ficando sublimados pela nossa correria diária.

Amigos: caso vocês leiam isso, saibam: não digo isso todo dia, mas é o que eu sei expressar sobre o que vocês fizeram de mim.

Obrigada.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

Vertigens pré-envelhecimento; as melhores.

Vertiginosamente convencida de que os filmes e as músicas e grande parte das flores não me convencem mais.

Me apedrejem vocês, consumidores, defensores e adeptos das filosofias 'Hierophant', 'Hypeness', 'Força, Foco e Fé', 'Doce Novembro', "Amélie Poulain' e etcéteras e tais.

Num mundo onde esse tipo de amor idealizado é vendido a R$32,00 por pessoa na bilheteria do Cinemark, ou por R$150,00 na floricultura de um grande shopping, ornamentado dentro de um vaso recheado de orquídeas ou rosas e um laço de cetim vermelho, ou pior: escrito em páginas semiamareladas envoltas em papel couché 90 gramas (e disposto pra venda em várias livrarias MegaStore)...

Acaba se tornando, pra mim, cliché.
Vamos escrever um novo conto de fadas, uma nova história arrebatadora de amor, uma saga de lutas, batalhas, suor, drama, com uma pitada de suspense e um final épico, daqueles de tirar o fôlego.