quarta-feira, 27 de julho de 2016

#3 Carta aos Meus Pais

Esse desafio das cartas traz umas propostas bastante inusitadas; as que tiram do conforto merecem uma atenção especial, exatamente porque talvez expressem coisas que geralmente não têm espaço para serem muito comentadas no mundo "verbal".

Vamos lá.

Aos Meus Pais,

Seria interessante se vocês pudessem ler realmente isso um dia.

Brevemente, o que eu tenho a dizer a vocês é que eu sinto muito. Sinto muito por vocês, porque acredito veementemente que todo ser humano só faz o que considera o melhor a ser feito, em qualquer situação. A escolha pela preguiça, pelo crime, pelo comportamento perverso ou desleixado, quando avaliado e escolhido naquele momento por um ser humano, é definido automaticamente, dentre uma lista de outras centenas de possibilidades, como o melhor comportamento a desenvolver, seja por diminuir a dor, dar prazer, ou qualquer outro benefício.

Tudo o que vocês fizeram, as escolhas de vocês, me impactaram sim; acontece que, de verdade,eu não sei exatamente em que momento específico ou por que, eu decidi fazer diferente da história de vocês.

Diferente de você, Mãe; uma menina fraca, sem muito juízo, que (eu realmente não faço ideia do motivo) se envolveu com uma pessoa extremamente nociva e não teve pulso firme pra sair. Vou dar o benefício da dúvida e chamar o que talvez tenha sido conivência de 'falta de pulso'. Fica mais fácil de sentir muito, ao invés de sentir pena.

Diferente de você, Luiz.
Você é um caso à parte: minha mãe pode ter sido estúpida ou até mesmo egoísta, mas você é um psicopata que deveria simplesmente estar afastado do convívio da sociedade. Não há muito o que dizer além disso sobre você.

Se um dia eu for surpreendida e tivermos um reencontro em alguma dimensão, eu posso dizer com a cabeça erguida que, se devia algo a vocês, acredito ter pago.

(Mas me pego pensando: se eu que devia à vocês e vocês vieram resgatar suas dívidas: não há re-acúmulo de 'bad karma' ao agir como vocês agiram?)

Como essa possibilidade é apenas uma especulação - e eu realmente ainda não sou evoluída a ponto de estar me importando muito com o grau de evolução em que vocês estão, mas sim de me policiar em fazer um bom trabalho Meu em vida - vamos voltar e finalizar.

Sinto muito por "isso tudo" ter sido o melhor que vocês puderam ser. Por muita sorte, eu me tornei um ser humano do qual eu tenho orgulho. Errei e sofri muito, muito em parte por causa do sentimento de solidão no qual sempre me senti mergulhada, devido ao fato de, por ingerência de vida (mãe) e psicopatia (Luiz), ter passado por uma vida extremamente desacompanhada, mas tive o apoio e  exemplo de pessoas diversas que me mantiveram com a chama acesa internamente. Me mantiveram com a doçura e com a esperança acesa. Graças a eles, eu estou aqui.

Obrigada por terem sido quem vocês foram; em condições normais, eu jamais teria sofrido tanto, e em contra-partida, não seria tão grata por tudo como sou hoje.

Saudações,

Clarissa Peçanha.





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